No último fim de semana, conquistei um novo título: agora, sou também uma ultramaratonista. Estou muito feliz por ter completado minha primeira ultramaratona de montanha. Encarar os 80 km (ou melhor, 90 km) da primeira edição do Endurance Challenge Agulhas Negras não foi fácil.
Após a queda, repensei muitas questões, inclusive sobre a preservação do meu corpo. Torci os dois pés e o joelho direito e, quando me dei conta de todo o perigo a que estava exposta, resolvi pisar no freio. Tentei administrar o ritmo, mas a dor era maior. Parei no primeiro ponto de apoio médico (no quilômetro 20) e fui aconselhada a desistir da prova. Imagino que minha fisionomia não era das melhores!
Realmente, não tinha mais certeza se conseguiria me manter correndo e fui contando os passos ao longo dos 60 km, quer dizer, 70 km que ainda restavam. Subi o morro da Pedra Selada me arrastando. Dois galhos me serviram de cajado ao longo de toda a subida. Nesse momento, eu era a segunda colocada e a líder da prova, Fernanda Maciel, não estava tão distante. A terceira colocada, Manu Vilaseca, me alcançou e fomos alternando posições. Ela me passava na subida, eu a ultrapassava na descida. Na complicada descida da Pedra Selada, consegui garantir minha melhor posição. Aproveitei a máxima de que para descer todo santo ajuda e me lancei ladeira abaixo. Foi muita loucura, mas depositei toda a fé, a coragem, a força e os pensamentos positivos nessa estratégia. Abri uma distância confortável e o objetivo, então, já não era mais buscar a primeira colocada, mas manter a segunda posição.
Nos últimos 30 km, fui acompanhada e incentivada por muitas pessoas que não me deixaram desanimar. Até um cachorro foi meu fiel escudeiro. Nos 10 km finais, eu chorei, mas não apenas de dor. Chorei de emoção e me perguntei: será que eu vou conseguir? Perdi o fôlego e precisei caminhar um pouco para organizar as ideias. Nesse ponto da prova, eu brigava com meu GPS. Não conseguia acreditar que havia acabado de ver a placa do km 70 quando o meu Garmin já marcava mais de 80 km.
Eu estava o tempo todo muito consciente da minha performance. Dores musculares eu não tinha, mas fui “derrotada” por aquele tombo. Meus pés queimavam feito brasa e não conseguia mais estender a perna direita. No final do percurso, encontrei corredores(as) que estavam fazendo a prova de 50 km. Parecia que eu estava sendo carregada por anjos. Já conseguia escutar as pessoas vibrando no pórtico de chegada.
Meu amigo e irmão Leonardo Meira foi quem anunciou os 500 metros finais. Atravessei o rio abaixo da ponte pênsil e me emocionei muito com toda a gritaria da torcida. Cruzar a linha de chegada foi o que de mais maravilhoso já me aconteceu! EU VENCI, mas não sozinha. Deus e todas as criaturas divinas criadas por ele me fizeram uma campeã!
Dedico esta segunda colocação a todos que correram física e espiritualmente comigo. Fiquei triste demais de ver muitos atletas que não puderam concluir a prova porque não alcançaram determinados pontos do percurso no tempo estipulado pela organização. Eu me senti impotente também e minha conquista é em nome de todos eles!
Agradeço o incentivo incondicional do meu marido Marco Piazza e o carinho dos meus amigos antes, durante e após a viagem para Visconde de Mauá. Agradeço também aos companheiros de viagem (MP, Vivi, Pri e Guilherme, pessoas maravilhosas) e aos amigos paranaenses que marcaram presença no evento. Sou grata ainda aos meus patrocinadores, que contribuíram para mais esta conquista. Equipiazza, Kailash Team Neptunia, Nutriscience, Marinha do Brasil, Prefeitura de Curitiba, Melissa Pinesso Nutricionista, Adroaldo Fisioterapia, Mariana Tippa e ML Sportes.
